segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Texto sobre "Psicotic Jazz Hall"

Por Eduardo Sardinha (Jornalista)


Antes de mais, "Psicotic Jazz Hall" é um saco de ratos! Mantém-se nele o saudável saco de gatos de sonoridades, samples, estilos musicais e o que mais, habituais à carreira de Kubik. Mas mais que psicótica, a colagem tem aqui uma fluidez tanto felina como cinematográfica.
Tome-se “Selatius, 17th Century”, pela citação samplada a "Cape Fear" de Martin Scorsese, mas principalmente pelo prumo que mantém de um honky tonk saturado para um funk que redunda nuns Orbital roqueiros, até sair num jazz mais cool. É a mesma linha groove intangível que percorre a maior parte do disco de um ragtime-big beat (“Shina-Kak”) às margens da electronic body music banhadas a glitch (“Psicotic Jazz Hall”), do trip-hop jazzy (“Gerry & Gerry”) ao desenfreado ritmo jazz polvilhado a notas étnicas e techno.
Depois, está-se nisto, a compreender todo o sentido que o olho de vidro de Sammy Davis Jr. fazia no Rat Pack e a interrogar sobre se David Holmes o compreenderia, quando se rompe o saco. A psicose de Kubik inaugura um novo disco à faixa 9 e deixa escapar cinco quase canções. Unidades autónomas e variadas: o rock esquizofrénico passivo de “I Think I Am” saltou do estúdio do super-álbum Ball-Hog or Tugboat? (Mike Watt, 1995), enquanto “Come and See” parece tecno-punk feito para Tim Burton ou “Dema-Gôd”, que ainda arranha o ragga.
Se a tudo isto adicionarmos que, tanto na profusão groove que dá nome ao disco, como nas propostas da segunda parte, Kubik ating uma acessibilidade assinalável, o diagnóstico de Psicotic Jazz Hall só pode ser um: eloquência.

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